FRAGUIMENTOS DA HISTÓRIA DE LUCÉLIA
Padre Dimitri Tkatchenko que atendia Balisa foi expulso do Brasil suspeito de propaganda comunista
Nossa Lucélia - 25.06.2019


O Padre Tkatchenko trabalhou em quatro ou cinco paróquias na Europa e veio para o Brasil em consequência do movimento político daquela época

LUCÉLIA - O padre Dimitri Tkatchenko, que atendia a comunidade eslava de Balisa, acabou sendo suspeito de fazer propaganda comunista, e teve mandado de expulsão do território nacional, decretado pelo governo Getúlio Vargas.

As referências à sua vida da Europa são escassas e contraditórias. Segundo algumas fontes, ele nasceu em 1896, numa aldeia chamada Siniavska. Uma reportagem do jornal Diário da Noite, publicada em 1948, indica que o padre “tinha entrado aqui em 1939, desembarcando em Santos, procedente de Praga, na Tchecoslováquia.

Em Praga esteve quatro meses, permanecendo mais de 10 anos na Ucrânia, onde ingressou na Igreja Ortodoxa. Esteve em quatro ou cinco paróquias na Europa, mas em nenhuma delas permaneceu muito tempo, tendo vindo para o Brasil em consequência do movimento político daquela época, sob orientação alemã.

Os documentos da comunidade russa em São Paulo apontam que Tkatchenko veio a São Paulo, acompanhado por sua esposa e filhos, por meio da chamada do Bispo da Igreja Ortodoxa Russa no Exílio em São Paulo, Theodóssio, que o designou para pároco da igreja russa no bairro de Vila Alpina.

Assim, desde 1939, o padre Tkatchenko assume a direção da paróquia russa Santíssima Trindade na Vila Alpina, frequentada pelos imigrantes eslavos do ex-Império russo: russos, ucranianos, lituanos, bessarábios, rutenos e outros.

Como pároco, padre Tkatchenko realizava os principais ritos da igreja: batismo, casamento e rito fúnebre. Todos esses atos eram cuidadosamente anotados nos livros de registros paroquiais, conservados até hoje na paróquia russa de São Nicolau em São Paulo e no dossiê do padre Tkatchenko no acervo do DEOPS no Arquivo Público do Estado de São Paulo. Esses livros trazem indicação que padre Tkatchenko fazia viagens regulares para o interior do estado para realizar batismos e casamentos nas colônias agrícolas eslavas. Entre 1939 e 1942 padre Tkatchenko batizou 931 crianças, em São Paulo e também nas colônias no interior: Balisa, Buri, Esperança, Feiticeiro, Nova Bessarábia, Represa, São Jerônimo (estação Limeira), Sete de Setembro, Sete de Maio, Costa Machado, Feiticeiro e outras.

Em setembro de 1942, o padre Tkatchenko registra a cisão oficial com a Diocese presidida pelo Bispo Theodóssio e se vincula à Igreja Patriarcal de Moscou. O conflito com o Bispo possuía caráter político, agravado pela Segunda Guerra Mundial. Em março de 1943, o Bispo entra na justiça com pedido de reintegração de posse da paróquia Santíssima Trindade, ganha causa e obriga o padre Tkatchenko e seus paroquianos a saírem do terreno na Vila Alpina.

Os anos da Segunda Guerra eram anos de disputas políticas na comunidade russa. O conflito de padre Tkatchenko com a direção da Diocese da Igreja russa no exílio se agravou tanto que 1948 ele foi detido pela polícia, como suspeito de propaganda comunista, mas conseguiu se libertar através do pedido de habeas corpus. Nesse mesmo ano foi publicado o mandado de sua expulsão do território nacional. Diversos relatos apontam que, sem esperar a realização do mandado, Tkatchenko partiu com a família para o Uruguai e de lá, segundo testemunhas posteriores, para a Tchecoslováquia. Não há informações sobre o seu destino na Europa.


Fonte: Marcos Vazniac _ Com colaboração de Dra. Svetlana Ruseishvili- Professora Adjunta do Departamento de Sociologia da Universidade Federal de São Carlos - UFSCar. Pesquisadora da imigração russa e eslava no Brasil / Crédito foto: Facebook Filhos de Lucélia

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