Jorge Cavilack: Comunista, Marxista e admirador de "Che" Guevara!
Nossa Lucélia - 14.07.2012



Por: Eduardo Bertin - O jornal Tribuna Adamantinense abre espaço editorial para uma entrevista mais do que especial com o Sr. Jorge Cavilack, residente em Lucélia, porém, um personagem fascinante pela sua história de vida e militância, bem como, pela compreensão crítica do contexto social e político do Brasil.

Também, a entrevista foi realizada pelo acadêmico do V Termo de Jornalismo, Eduardo Bertin como um dos requisitos pedagógicos da disciplina de “Técnicas de Entrevista, Reportagem e Pesquisa Jornalística” (I Semestre/2012) sob a coordenação do Prof. Ms. Sérgio Barbosa.

Jorge Cavilack é brasileiro, 74 anos, descendente de russos, casado com Shirley Cavilack e residente da cidade de Lucélia. Estudou até o ensino médio. É escritor e possui em residência, material para escrever 20 obras, além de uma biblioteca com mais de mil livros, todos lidos. Segundo Cavilack, muitas vezes preferiu ler e alimentar a alma, do que comer certos tipos de comida. Cavilack é ateu assumido e afirma que leu a Bíblia quatro vezes. É comunista, Marxista e admirador de Che Guevara.

Eduardo Bertin: Qual a bandeira do regime comunista o senhor defende? Nos dias atuais, considera esse regime uma utopia ou ainda acredita que possa ser implantado?
Jorge Cacilack: O Regime Comunista, assim como uma criança quando nasce e tenta dar os primeiros passos, ela cai e levanta, cai e levanta, e então após um período de aprendizado, ela consegue se firmar e caminhar. O que não aconteceu. Nós fizemos uma revolução. Digo nós, pela empatia que tenho pelo sistema. Mas não deu certo, infelizmente.
Por causa de uma sucessão de erros, não se implantou nenhum regime comunista, nem na Rússia nem na China. A China se converteu para um capitalismo econômico com uma ótica pseudamente socialista, então não houve comunismo no mundo. Os grandes pensadores, Marx e Engels, deixaram uma série de coisas que ainda hoje são defensáveis e uma série de coisas que não vão se realizar.
O comunismo na sucessão de erros que se pôs na história tentou soluções ridículas como na Albânia e tivemos em Cuba um regime defensivo. O mérito desse país não foi promover a liberdade, o crescimento econômico; foi resistir cinquenta anos sem se permitir ser derrubado e varrido do mapa pelos EUA. E aqui no Brasil? Cadê nosso João Goulart? Nosso Getúlio Vargas? Foram todos varridos pelos EUA. Fidel Castro sofreu várias tentativas de assassinato e o fato dele sobreviver já trouxe um pouco de liberdade latino-americana que não existiu em nenhum lugar do mundo.

EB: Qual sua principal influência ideológica?
JC: Eu sou muito afeito a Sigmund Freud, não propriamente à psicanálise, que hoje não está em condições de ser exercida. Charles Darwin, que trouxe uma ótica diferente; antigamente, o ser humano era enjoadinho. “Ah, ele é negro”, “parece com um macaco”. Existiu uma evolução biológica e isso não é vergonha nenhuma assumir. Eu sinceramente acho que o macaco ficaria mais ofendido ao ser comparado com o homem. Karl Marx, que revolucionou a ótica histórica, o modo de analisar a história. São esses gigantes que trouxeram um Mundo Novo. O Che Guevara é um herói por um motivo esquisito: nada do que ele fez, deu certo. Lutou na África e perdeu, lutou na Bolívia e acabou morrendo, lutou em Cuba, tudo bem, foram vitoriosos em termos técnicos... Porém, era um médico, um psicanalista, bem sucedido, e não precisava colocar um fuzil nas costas, sair pra combater no mundo e ter essa ideologia de se doar, de se sacrificar por um mundo melhor.
Quando fazia uma alto-análise, ele dizia: “Você está doente até aqui pessoalmente, metade, a outra metade é doença social. Você não vai se curar porque está vivendo numa água poluída, neste capitalismo, neste cristianismo”.

EB: Como analisa o atual cenário político brasileiro?
JC: No Brasil até me surpreende que a mídia não reporta a realidade do nosso sistema. Nosso sistema é fascista. Lá na Itália o Mussolini dizia que se juntasse o trabalhador com o patrão, eles se tornavam inquebráveis, como um feixe. O Lula fez isso, ele juntou o Bolsa-Família e uniu com o Eike Batista, disse que juntos formariam um “Grande Brasil”, que é um absurdo; não existe soma de óleo e água, de Deus e Diabo e de operário e empresário.
Hoje o Lula aparece em público com a camiseta do Corinthians, diz isso, aquilo e criou aqui o Império da Imbecilidez. Junto com ele vem esse tal de Tiririca, entre outros.

EB: Em sua opinião, quais as medidas necessárias para criar um país melhor e uma sociedade igualitária?
JC: Dentre outras coisas é estudar, pesquisar, questionar, ir à fonte de crítica. Quando pensamos em crítico, a imagem que temos é do homem que fala infâmias, maldades, e não é nada disso, mas sim aquele indivíduo que saiu da caverna e pensou que pra frente tem vegetação e animais pra nossa caça, peixe pra nossa pesca. Quando os outros diziam que não teriam casas pra eles se refugiarem, eles criaram cabanas; então esse é o crítico, que criticou àqueles que ficaram nas cavernas, se não fosse isso, ainda estaríamos lá atrás. O crítico é necessário. Se não fizermos uma nova geração de pessoas assim, que se pense em o que foi feito e o que será feito, ficará difícil.

EB: Qual a principal diferença entre o governo Lula e o atual?
JC: Não tem nenhuma e não tinha em relação ao governo FHC. Eu vivi a ditadura até 1985 e digo: hoje a ditadura imperante do mercado é muito mais eficiente, muito mais abrangente e muito mais contundente que a ditadura velha, porque o militar era patriotão e opressor. O Lula acabou com o aspecto político, o que pôde comprar, ele comprou, inclusive a UNE. Então ele se agravou. É um sistema fascista agravado, porque é popular e o regime tem essa figura; Mussolini era popular, Salazar era popular, Pinochet era popular... A Dilma era socialista e hoje está aí, convertida, falando besteiras e não consegue nem programar uma Copa do Mundo.
Nós estamos numa mediocridade de tal ordem, que o Governo FHC, o Governo Lula e o Governo Dilma são o mesmo governo pesado do mercado.

EB: O PT, que por anos foi considerado um partido de esquerda, está assumindo uma posição conservadora?
JC: Terrivelmente conservadora, mais que conservadora, eles são insuspeitos para fazerem os serviços sujos, eles são os mordomos. Quando eu fui petista e votava no Lula, sempre me perguntava o porquê dos outros partidos terem três siglas e o PT duas. É porque o PT era só o partido dos trabalhados, trabalhados para os ricos. Hoje ele é um partido católico, reacionário e fascista, de direita, que faz uma camuflagem, uma mímica, “ah, vamos dar esmolas aos pobres e encher o bolso dos ricos”.

EB: Qual a sua posição sobre as alianças que são realizadas entre os partidos?
JC: Justamente essa prostituição. Eles fazem aliança, Deus com Demônio. Os ruralistas e latifundiários têm 230 deputados no congresso e vão aprovar a reforma no Código Florestal pra pior, que dá condições de plantar soja, de colocar bois na Amazônia... Então, eu não sei em que Brasil a gente se reporta.
Essas alianças estão nesse universo, porque não têm autenticidade e nenhuma linha ideológica. Formou-se um grupo de assaltantes que usufruem do poder.

EB: Os jovens de hoje são interessados em política? Por quê?
JC: De forma nenhuma. De forma nenhuma. Hoje quando eles ouvem sobre política, começam a se coçar, a tossir, olhar pros lados. É complicado, até mesmo porque em termos estruturais de mercado, ele não tem mais espaço. Quando o mercado domina tudo, a pessoa não tem mais opção. Quem é dono de tudo? É o mercado. Então, você vai ser contra o mercado?
O jovem quando percebe que a coisa não tem forma... “Ah, eu vou ser comunista”, mas não tem comunismo. “E a China?” A China não mais é comunista. “E Cuba?” Cuba está nos estertores. “Então eu vou ser PT”. O PT também está desmoralizado. Com isso o mercado bloqueou a política prática, aquela praticidade.

EB: A mídia influencia na preferência política da sociedade?
J.C: A mídia é tida classicamente como o “Quarto Poder”, mas em alguns casos eu vejo, até como o primeiro. Rede Globo no Brasil, grupo do Carlos Slim no México, do Berlusconi na Itália, e outro na Europa. São quatro redes que têm liberdade de imprensa e que muitas vezes, entortam todo o processo da realidade.
A Mídia hoje acompanha os demais, acompanha os fatos; não existe liberdade de imprensa. É um lixo.
Uma vez eu fiz um curso de Jornalismo Parcial e fui escrever, “vou estudar o que está acontecendo”, “por que o Brasil está desse jeito? Será que é por causa dos por causa dos portugueses? Será que eles são burros mesmo?” Mas vi que a culpa não era deles, porque eles não são burros. A culpa era da Igreja Católica. Porque o catolicismo não tem o espírito do capitalismo. Eu fiz um artigo que se chamava “Deus dólar”. Os propagandistas começaram a dizer: “Se esse homem continuar escrevendo no jornal, eu tiro meu anúncio, porque ele é ateu e comunista”. Na época, eu namorava com a Shirley. Sempre fui muito feio, só tive uma namorada, ela foi à única que tive. Então, mandaram duas freiras pra acertar tudo: “Esse namorado seu não presta, é ateu, é bandido, é comunista”. Diziam elas. Queriam tirar minha namorada. O padre me chamou e me excomungou, recebi cartão vermelho, perguntei: “Pô, mas não tem liberdade de imprensa?” Ele disse: “Você que pensa. Você que pensa”. Não existe liberdade de imprensa. Quem manipula, são pessoas, são grupos...

EB: O senhor acredita que no Brasil exista algum herói? Ou já existiu?
JC: Ah, tá difícil. Duque de Caxias foi um herói, ele ganhou uma patente com sete anos! Nós tivemos dois heróis recentes que foram na base da Antártica, pela parte do Capitão Ferraz, que à noite eles colocaram fogo no local pra se aquecer. O fogo tomou conta e queimou tudo. Tivemos alguns militares que estavam dentro de um submarino estacionado no Rio de Janeiro, quando foram submergir, não fecharam as cortinas... O submarino foi-se com computares e tudo. Então, não temos heróis. “Ah e o Rio Branco?!” O que o Rio Branco fez? Ele arrumou um juiz internacional e subornou e acertou Ponta Porã no território brasileiro. Não temos momentos engrandecedores.
Se pegarmos esses malandros de políticos aí, os “heróis” da história brasileira, por exemplo, José Dirceu do PT. Dizem que ele era bonitão, revolucionário, que seria o nosso Che Guevara. Hoje, presta orientação pro Carlos Slim, é lacaio de um dos homens mais ricos do mundo. “Ah, tem o Tiririca”, mas ele não sabe nem escrever.
Acredito que não precisamos de heróis. Os que temos são os do mundo esportivo: Ronaldinho Gaúcho, que ganha um milhão por mês; o professor tem um piso salarial de mil e quatrocentos reais e onze estados não conseguem pagar. E agora pergunto: O que o Ronaldinho Gaúcho produz de importante pra sociedade brasileira? O mesmo que a cocaína, porque ele aliena, ele tira da realidade. Hoje o Brasil é um país de “maconheiro geral”. De maconheiros evangélicos, de bíblicos e culturais.
Falam do Pelé. Eu tenho uma antipatia por esse ser humano. O que ele prestou de acobertamentos na ditadura, não tem tamanho. Ele é um dos piores cidadãos do mundo, deixou morrer a filha sem uma xícara de café, porque disse que era fruto de uma “escapadela” então não ia pagar pensão pra ela. “Ah, mas fez mil tentos!” E eu vou me alimentar de tentos do Pelé?
De herói, você pode destacar o Chico Mendes, que defendeu a Amazônia, nosso patrimônio... e esses heróis anônimos que existem por aí, que levantam cedo, que trabalham.

Fonte: Eduardo Bertin / Tribuna Adamantinense

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