O Amante número Um da Liberdade, nasceu e morou em Lucélia
22 de dezembro de 2006

Nelson Martinez - “Tiu” era um negão refinado na exigência de amizades, malandro na conquista de um carinho ou de atenção, tinha o hábito de levantar cedo e logo sair andando pelas ruas de Lucélia. Visitava todos os dias, os familiares das pessoas com quem vivia, bem como, seus amigos e conhecidos. Em cada visita recebia agrado, às vezes até uma coisinha diferente para comer, lógico que já registrava como convite para o retorno no outro dia.
“Tiu” tinha seu jeito próprio de ser, caminhava pelas ruas da cidade com a maior desenvoltura, sempre com sua ginga malandra, naquela de que não quer nada, mas ligado em tudo e em todos, conhecia como ninguém cada canto da cidade, e de cor e salteado quase todos os postes de aroeira da Companhia Elétrica Caiuá, que nas noites quentes patrocinava aos casais de namorados o espetáculo a “dança das mariposas em volta da lâmpada.”
“Tiu” era defensor incondicional da Liberdade; Para ele, o direito de ir e vir era sagrado, fazia-se por ser respeitado, não levava desaforo para casa, vira e meche se envolvia em grandes confusões para garantir seu direito, muitas vezes chegava em casa até machucado, levava broncas homérica, mas não tinha jeito, no outro dia já estava de novo na suas aventuras, exercitando seu direito sagrado de ir e vir.
Seu itinerário não era muito definido, mas as visitas eram sempre as mesmas: Restaurante Ikeda, Casa Tupi, Hotel Paulista, uma parada no Posto do “Mané Lopes”, para visitar seu amigo “Anu Branco”, uma descansada na porta da sapataria V8, uma passada no Pozzeti para umas brincadeiras com o “Badola” e às vezes na companhia sempre de alguém, pegava carona e dava uma esticada no itinerário só para visitar as meninas da “paiada”, depois da linha férrea; Aí terminava o dia.
De tardezinha voltava sempre pelo caminho da antiga Rodoviária, descia até o pátio da ferrovia, saltava por entre as toras de peroba ou aroeira, que aguardavam o dia de serem embarcadas no trem com destino a Capital. Ficava zanzando ali pela Estação, como quem não quer nada, só esperando o trem das 16,30 horas com destino a São Paulo, o pessoal do carro restaurante eram amigos, e nada como uma saudação a todos e uma retribuição gratificante.
Depois de um dia gratificante, o negão chegava em casa já noite, cansado, sem delonga jogava-se em sua cama predileta para o sono dos justos. Numa dessas aventuras da vida, o negão dançou feio, e foi bater lá no fundo do poço. Passou a noite dentro da água gelada, só sendo içado para a superfície, no outro dia, pela manhã, depois de muita ginástica por parte de suas salvas vidas.
Pensava consigo; quem teria esquecido de tampar o poço. Mesmo assim, após o acidente, o negão não se emendou, e para nossa tristeza de criança o “Tiu”, nosso cachorro de estimação, foi despachado para o sítio do tio Miguel em Osvaldo Cruz, onde encerrou sua vida, livre como era em Lucélia, só que, correndo menos riscos. Hoje com certeza, em Lucélia, como em Osvaldo Cruz, existem muitos parentes descendentes do “amante da liberdade”. O nosso querido vira lata “Tiu”.

Voltar para a coluna Nelson Martinez


© All rights reserved.
Contact: Portal Nossa Lucélia Powered by www.nossalucelia.com.br