Política de Lucélia foi cadastrada no DEOPS

Colaboração: MARCOS A. VAZNIAC (Gazeta Regional)
Pesquisa realizada pelos professores Cândido G. Vieitez e Yoshiko Tanabe Mott, da Universidade Estadual Paulista "Júlio Mesquita Filho" (Unesp Campus de Marília)


Quando o escritor irlandês, Hermes George Orwel, escreveu em meados da década de 40, do século XX, o romance histórico intitulado "1984", estava se referindo aos sistemas totalitários, onde o olhar crítico do estado controlaria a vida das pessoas.

O personagem de George Orwel, o Big Brother (O Grande Irmão), controlaria a vida de cidadãos comuns. O que vemos hoje, na Rede Globo, através do Programa Big Brother, e no SBT, através do programa Casa dos Artistas, existiu na prática durante os diversos sistemas autoritários e antidemocráticos existentes no mundo.

Na década de 40, o então presidente-ditador, Getúlio Vargas, instituiu o DOPS (Departamento de Ordem Polícia e Social), tendo como objetivo fiscalizar bem de perto o que acontece no Brasil. Na época, era grande o perigo de uma revolução comunista no Brasil e o estado, fiscalizava de perto não só os comunistas, mas também os anarquistas, membros da seita japonesa Shindo He Mei e os partidários do nazismo dentro das colônias alemãs. O Departamento Estadual de Ordem Política e Social (DEOPS), teve grande importância durante o Regime Militar (1964-1983 quando foi desativado). É bom salientar, que o DEOPS existiu em todos os estados da Federação, onde a fiscalização cobriu todas as comarcas do Brasil.

Os documentos do DEOPS foram doados a Polícia Federal, no início da década de 90 os documentos foram doados ao estado e em 1995, o então governador Mário Covas autorizou que os arquivos fossem abertos para pesquisas, Desde então, centenas de jornalistas e historiadores, vão ao prédio do Arquivo do Estado, que fica adjacente à Estação do Metrô de Tietê, para pesquisar as toneladas de caixas contendo milhares de documentos sobre o período, em que o DEOPS funcionou como Big Brother.

Realizamos durante o segundo semestre de 2001, pesquisa do Arquivo de Estado, para verificar alguma informação sobre as fiscalizações realizadas pelo DEOPS em nosso município.
Fizemos então um levantamento de possíveis pessoas que teriam suas vidas vasculhadas pelo órgão governamental. Encontramos no Dossiê Lucélia, cerca de 150 páginas com informações sobre a cidade. Pesquisamos apenas o período correspondido entre 1964 até 1983, e neste período encontramos diversos relatórios enviados pelos delegados da época sobre a situação política em Lucélia.

Há informações na imprensa local de Relatórios onde os partidos políticos da época Arena (Aliança Renovadora Nacional) e o MDB (Movimento Democrático Brasileiro), tiveram suas vidas vasculhadas. A vida e conduta moral dos padres, pastores e diversas igrejas evangélicas, centros de umbanda são analisadas.

Vale lembrar aos nossos leitores que nos documentos relativos ao Regime Militar em Lucélia, não há acusação séria contra qualquer membro da sociedade luceliense. Há sim, relação de nomes de possíveis comunistas, cuja identidade todos sabem. Os relatórios sempre dizem que a conduta moral e ética dos políticos, religiosos, padres e comerciantes são ótima, portando gozando de bom prestígio social.

Não devemos julgar o passado. Os fatos do passado pertencem ao próprio passado. A nós cabe o fato do presente e do futuro.

Quando falamos em Regime Militar e principalmente em DEOPS, logo vem à nossa mente a sinistra informação capitada pelo inconsciente sobre as torturas, mortes, perseguições arbitrárias, as ossadas encontradas no cemitério de Perus, em São Paulo e principalmente o nome dos delatores. Para tranqüilizar nossos leitores, nas diversas páginas do Dossiê Lucélia, não há nenhum nome de delator da sociedade civil. As informações eram passadas pelas autoridades da época, cuja atividade profissional não deve ser julgada por ninguém, pois cada um cumpria sua atividade profissional.

SUPOSTOS COMUNISTAS ERAM PERSEGUIDOS EM LUCÉLIA

Na década de 1.980, os professores Cândido G. Vieitez e Yoshiko Tanabe Mott, ambos da Universidade Estadual Paulista "Júlio Mesquita Filho" (Unesp Campus de Marília ), encontraram papéis corroídos pelo tempo em uma sala imunda da Universidade. Ao lerem aqueles documentos, encontraram parte da vida política das cidades da região.
O trabalho virou monografia, editada pela Unesp, com o Título: DOCUMENTOS SOBRE O PARTIDO COMUNISTA – 1.945 A 1.954 – REGIÃO DE MARÍLIA divididos em Tomos diferentes.

No Volume I, Tomo I, página 2, o delegado de LUCÉLIA responde um comunicado da Delegacia Regional de Marília, relatando a inexistência de membros da "Liga Camponesa" em nossa cidade.
-"Com referência à circular número 51, dessa Regional, tenho a honra de informar a V. Excia., que esta delegacia após demoradas investigações, por vilas, patrimônios e bairros deste extenso município, verificou a inexistência neles da "Liga Camponesa", organização de origem comunista, sendo a mesma complemente desconhecida de seus habitantes".

No Volume I, Tomo II, página 06, o Delegado de Polícia da época, envia resposta para a Delegacia de Marília, no dia 06/02/1.948, respondendo circular número 31.
a) Vereador P.A., brasileiro, casado, branco, motorista com 35 anos de idade, natural de Itápolis, deste estado, filho de A.A. e de D.R., residente nesta cidade de Lucélia (eleito pelo Partido Trabalhista Nacional), não registra antecedentes nesta delegacia).
b) No Município de Lucélia, não houve candidatos comunistas do P.S.T.

Sobre o Título de "Membros do Partido", o delegado de Lucélia na época, envia no dia 19/01/1.948 à Delegacia de Marília, relação nominal dos membros do extinto Partido Comunista, de acordo com a circular número 21 da Delegacia Regional de Marília, conforme conteúdo do Volume I. Tomo I, páginas 23 e 24.
"E.F., funcionário do Banco Industrial de São Paulo, residente à Rua Amazonas, n 1.000;
P.A., motorista profissional, (é vereador eleito pelo P.T.B.), residente à Rua Limeira;
C.M., alfaiate, residente à Rua Amazonas;
S.P.O., alfaiate, residente na Vila Cayres;
J.G., pedreiro, residente na Vila Rancharia."

Informação importante. - Os documentos publicados pela UNESP, foram doados para a biblioteca das Faculdades Adamantinenses Integradas (FAI) de Adamantina, fazendo parte do acervo daquela faculdade.
Na época era grande a preocupação do Departamento Operacional de Política Social (antigo DOPS), sobre agitações que seriam feitas pelos comunistas. (Fonte: Texto extraído de publicações na imprensa local)


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