Quinze segundos de fama
12 de agosto de 2004 - Jose Rocha

O nome do meu genro é Maico (culpa dessa mania brasileira de batizar as crianças com nome estrangeiros, e é nisso que dá - falem lá com "seu" Adão e dona Cícera, pais dele). E vocês com isso, não é? Eu me explico: dizer que o nome do meu genro é Maico não muda a situação dos times cariocas no Campeonato Brasileiro, nem melhora o humor do tal do George Walker Bush, o "paladino" antipático do Partido Republicano, que gosta de brincar com fogo.

O negócio é que foi o Maico quem me chamou para ver uma reportagem num desses programas esportivos de nossas manhãs de domingo. "Corre aqui!", ele gritou da sala, como se gritasse para o Rubinho Barrichello ter um pouco mais de pressa, coisa que o vice tupiniquim da Ferrari não tem, nem para chegar à sala lá de casa. Mas Maico me chamou para ver uma reportagem sobre livros dedicados ao futebol, à Fórmula 1, ao esporte, enfim, que estava passando na TV Globo.

Lá fui eu - dando volta de gente grande em retardatário -, num pulo, dar de cara com meu livro "Coração de Leão", aquele, que escrevi para o meu querido e idolatrado Fortaleza Esporte Clube, com as bênçãos da Lei Rouanet e da Santana Têxtil, que pagou a edição. Meu livro estava na telinha, em close, ao lado de verdadeiros best-sellers da Pátria de Chuteiras. Eram 190 livros em pilhas de 10 em 10 - uma gincana para o projeto "Criança Esperança" - e alguém da produção, grande sujeito, deve ter colocado meu livro em cima de uma das pilhas, que o câmera, cabra bom, resolveu enquadrar. Glória! Quinze segundos de fama. Quinze segundos tão rápidos que eu mesmo quase não consegui ler meu nome, mas reconheci o livro pelas cores vermelha, azul e branca no bandeirão da TUF (Torcida Uniformizada do Fortaleza), que ilustra a capa.

Pronto. Não foi mais nada que isso. Recebi um único e solidário e-mail do amigo Cláudio Saraiva, tricolor como eu, que mora, para minha inveja bruta, em Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, perguntando se eu tinha visto a matéria. "Na Globo, meu!", me diriam os amigos paulistanos, com o devido e inconfundível sotaque da Mooca. E eu penso: é, de fato, na Globo. Mas e daí? Meu livro estava entre outros 189 - sobre Ayrton Senna, Ademir da Guia, Mané Garrincha, Pelé! - como figurante. Claro que foi bom, mas eu, avô, passado dos quarenta, com ferro a carvão, e não é de hoje, só consegui me lembrar de Andy Wahrol e sua famosa deixa sobre os quinze minutos - para mim, quinze segundos.

Eu agradeço ao cara da produção, que botou meu livro lá; ao câmera, que focalizou o bandeirão da TUF, mas não me iludo, como cantaria o bom ministro Gilberto Passos Gil Moreira: "Não me iludo. Tudo permanecerá do jeito que tem sido".

O que importa é que o nome do meu genro é Maico (já disse que a culpa é de seu" Adão e dona Cícera) e que ele, o Maico, com minha filha Amanda, me deu um neto lindo, Igor, o pequenino aqui de casa, que pega esse mesmo livro, o "Coração de Leão", pára na primeira orelha, onde tem uma foto minha, fazendo pose na Praia do Náutico, e repete, para meu delírio: "Vô". "Vô". Ainda bem que ele não diz "vovô", como me lembra o incorrigível Paulo César Norões, centroavante leonino da TV Diário. Valha-me, Deus!

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