A lista do Sesc
18 de janeiro de 2005 - Jose Rocha

Não sou adepto dessas famosas listas de “top ten”, que aparecem todos os anos, e tenho ressalvas a que o Sesc Pompéia promoveu – que indicaria os dez melhores discos da história da MPB e acabou indicando 11. Já de cara, noto que, entre os doze críticos de música escolhidos para a votação, não está o nome de Maurício Kubrusly, o mais sério de todos, com quem fui musicalmente alfabetizado.

Carlos Calado, Fernando Faro, Israel do Vale, João Máximo, Jotabê Medeiros, Lauro Lisboa Garcia, Marco Frenette, Mauro Dias, Pedro Alexandre Sanches, Sérgio Martins, Tárik de Souza e Zuza Homem de Mello foram os 12 homens que escolheram os dez (quer dizer, 11) melhores álbuns da Música Popular Brasileira. Se eram dez indicações, por que doze indicadores?

O “the best” do Sesc traz 11 discos (segundo a instituição, porque houve um empate entre os três primeiros colocados e outro empate do sétimo ao oitavo), de “Tropicália ou Panis Et Circenses” (1968), que ganhou a parada, a “Amoroso” (João Gilberto, 1977), o 11º, que entrou de gaiato.

A lista, do segundo ao décimo, traz, pela ordem, “Acabou chorare” (Novos Baianos, 1972), “Da Lama ao caos” (Chico Science e Nação Zumbi, 1994), “Samba Esquema Novo” (Jorge Ben, 1963), “Elis & Tom” (1974), “Canção do amor demais” (Elizete Cardoso e João Gilberto, 1958), “Construção” (Chico Buarque, 1971), “Clube da Esquina” (Milton Nascimento, Lô Borges e Beto Guedes, 1972), Secos & Molhados” (1973), e “Cartola” (1976).

Wanderley Luxemburgo, que está na crista da onda, ensinando as estrelas do Real Madrid a jogar como jogadores e não como estrelas de Hollywood, poderia ter feito a escalação dessa lista, porque ela é bem óbvia, como a escalação do Real, com a agravante de que era para ser apenas dez, mas virou 11 – por isso, botaram lá o disco “Amoroso”, nome de jogador, por falar nisso, de João Gilberto.

Sinto aí uma certa tendência a proteger João Gilberto, que é uma espécie de unanimidade em tudo quanto é lista, ainda mais chique como é essa do Sesc, da qual tenho três discos (“Tropicália”, “Acabou chorare” e “Secos & Molhados” – estes, os Secos & Molhados, que vi numa TV Colorado RQ de minha avó Francisca Vieira Rocha, quando eu ainda era aluno do Joviniano Barreto, lá no São João do Tauape).

De qualquer modo, o “top eleven” do Sesc Pompéia não comete nenhum pecado mortal. Nada que o bom padre José Hass Filho, que partiu fora do combinado, como diria Rolando Boldrin, não punisse com umas boas ave-marias.

O problema é que essas listas, com medalhões da crítica ou não, como é o caso dessa, são desagradáveis, ou deselegantes, porque deixam (sempre) muita gente boa de fora – e cometem suas injustiças. Mas a lista do Sesc tem pelo menos uma vantagem: não é unanimidade, e a unanimidade, como diria Nelson Rodrigues, é burra. É uma desculpa – ou 11, se houver empate.

José Rocha, 44, é autor dos livros “Espelho quebrado”, “Batatas fritas ao sol”, “O verbo por quem sofre de verborragia”, “Coração de Leão” e “A lua do meio-dia” (no prelo).

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