O que fizeram com o meu Fortaleza?
30 de dezembro de 2004 - Jose Rocha

Meu time, o Fortaleza, acaba de subir para a Primeira Divisão do futebol brasileiro e, ao mesmo tempo, acaba de perder o presidente, Clayton Veras, que renunciou; o patrocinador, a Santana Têxtil; o técnico, Zetti, que assinou com o São Caetano; e mais de uma dezena de jogadores. E continua saindo gente. Cada vez que acesso um site esportivo, está lá que saiu fulano, beltrano, sicrano...

Nunca tinha visto desmanche maior. O novo presidente, que ainda não é presidente, porque só assume oficialmente daqui a uma semana, me parece mais perdido que cachorro caído de mudança, como diria meu amigo Raimundo Rocha, que adora essa frase – o Raimundo que é um baita escritor, mas que não tem parente ou padrinho rico e que, por isso, não tem uma editora para publicar seus belos textos (culpa de um Brasil que ainda não aprendeu a valorizar o talento, apenas o dinheiro, e imediato, de preferência).

É um espanto! O tema Fortaleza Esporte Clube me dá medo – como é que esse time vai entrar em campo na disputa do fraquinho Campeonato Cearense? Ribamar Bezerra já disse que vai pedir o adiamento da primeira partida do Fortaleza, contra o Uniclinic, porque não tem time para colocar em campo. Mas o Fortaleza não disputa apenas o frágil, desorganizado Campeonato Cearense. Disputa a Copa do Brasil e, mais do que tudo isso, o Campeonato Brasileiro da Primeira Divisão.

Penso: será que o Fortaleza vai entrar em campo com os meninos que, finalmente, vão disputar a Taça São Paulo de Juniores? Demoraram em colocar esse time na Taça São Paulo. Ribamar, com esse nome bem maranhense, deu a entender, numa das muitas entrevistas que deu, sem dizer nada, com todo o respeito a ele, que, se não conseguir adiar o jogo contra esse time que tem nome de clínica, o Uniclinic (que é uma clínica mesmo), vai colocar em campo garotos do sub-18.

E o pior é que lá, no Fortaleza, tem um certo José Rocha, que fez parte da diretoria que subiu e desceu em 2003, que me causa uma confusão medonha. Outro dia, em conversa com meu tio Eliézer, que mora na capital cearense, ele pensou que o José Rocha cartola era eu. “Quem é esse Rochinha, esse José Rocha que está falando no rádio?”, me perguntou o tio Eli. Explique a ele que conheço o homem e que ele não tem nada, absolutamente nada a ver comigo. E olha que até e-mail eu já recebi, de gente pedindo para fazer testes no time.

E hoje, para coroar o dia, o Globo Esporte mostrou a festa que os torcedores do Fortaleza fizeram para o ex-nosso técnico Zetti, quando subimos para a Série A do Campeonato Brasileiro, mostrando, depois, o ex-goleiro do São Paulo no São Caetano. Aí fui na Internet. Tinha lá que perdemos jogadores para o Bahia, o Sport Recife, o Santa Cruz, todos times de Segunda Divisão. E tem torcedor confiante. Eu, sinceramente, estou assustado. Quero, mas como quero, queimar a língua, mas acho que, como diz o bom escritor Raimundo Rocha – aquele, que as editoras ignoram, para o azar delas -, estamos mais perdidos que cachorro caído de mudança.

José Rocha, 44, é autor dos livros "Espelho quebrado", "Batatas fritas ao sol", "O verbo por quem sofre de verborragia", "Coração de Leão" e "A lua do meio-dia" (no prelo).

Voltar para crônicas de José Rocha


© All rights reserved.
Contact: Portal Nossa Lucélia Powered by www.nossalucelia.com.br