Clodovil e a TV do Brasil
14 de agosto de 2004 - Jose Rocha

Acabo de ver o Clodovil, a quem admiro, e não é de hoje, ao vivo, na Rede TV, puxar a orelha da Rede TV - você leu isso mesmo -, onde ele trabalha e, cá entre nós, faz um dos mais simpáticos e agradáveis programas nas pobres tardes da televisão brasileira. O motivo da bronca de Clodovil, que bota a boca no trombone mesmo, é, olha que curioso, um programa da própria Rede TV, que vai ao ar aos domingos: o tal do "Pânico na TV", uma bobagem sem tamanho, mas com espaço na telinha, como muita porcaria assemelhada, onde se achar o fino da inteligência é ridicularizar quem quer que seja.

Mais do que isso, como se fosse possível ser pior, e é, no tal do "Pânico", o programa que caiu na ira do estilista, brinca-se com o absurdo, entre outras patifarias, para ficarmos por aqui, como a preferência ou suposta preferência sexual de algumas pessoas como argumento.

No domingo passado, foi ao ar uma corridinha inventada, onde os personagens eram Freddie Mercury, vocalista do Queen, morto no começo dos anos 90, e Clodovil. Na armação do "Pânico", os dois "atletas" corriam de costas e Clodovil ganhava, como prêmio, o direito de encostar as nádegas na região pubiana de um garotão (a cena foi ao ar em close e com replay).

Sem querer bancar o puritano, mas baseado no que vi, e que Clodovil reclama, com razão, já que sua vida sexual não é da conta de ninguém, muito menos da minha, a televisão, seja ela a fraquinha Rede TV ou a poderosa Globo, não pode fazer insinuações contra quem quer que seja, e, pior, levar ao ar essas "inteligentes" criações - reparem as aspas, por favor.

Sim, eu sei, muitos podem discordar completamente de mim, mas que a televisão brasileira anda chutando o balde, anda. Você liga a TV e, em nome de direitos constitucionais e da suada democracia, em nome dos quais já se fez muita merda no Brasil, o que se vê, em sua grande maioria, é um lixo que não dá nem a oportunidade de reciclagem. É tóxico mesmo.

Confesso que estava sem assunto e que só me deu na telha de escrever quando vi Clodovil, de dedo em riste, dizer umas boas verdades na tarde de hoje. Seria tão bom que outros apresentadores - e empresários do ramo televisivo, já que os canais de TV são concessões e não a "casa da Mãe Joana" - tivessem a mesma coragem - e ética, sim - que ele tem.

Grandes picaretas, donos de emissoras, astros de quinta categoria e por aí vai, fazem o sucesso fácil, passageiro, sem critério nem sobrenome, enchem o bolso por cima do "emburrecimento nacional", como já escreveu Juca Kfouri. A TV brasileira, para nosso infortúnio, é uma droga perigosa em meio a coisas boas - que bom que elas, as coisas boas, ainda existem. É por essas e outras que concordo com os que querem mudar a televisão no Brasil. Que se mude para melhor, porque a coisa anda feia, viu? Ah, anda...

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