Música, com leitura crítica sobre Adamantina, gera polêmica e debate
Nossa Lucélia - 30.10.2020


Músico previu: "Eu sabia que seria uma música que geraria reações intensas", diz Rabay

ADAMANTINA - O lançamento do single “Saudade de Adamantina”, do músico Rabay, ocorrido no último domingo (25) em seu canal no Youtube, provocou reações imediatas nas redes sociais, divididas entre apoio e duras críticas ao trabalho do artista. A discussão não se limitou à letra nem aos aspectos estéticos da canção, e avançou também por questões ideológicas, partidárias e culturais.

No single, Rabay sampleou música homônima, de Julião Saturno, usando alguns de seus elementos na nova canção. O músico também faz menções a trechos do hino de Adamantina. Na letra, ele aborda questões indígenas locais, a polêmica envolvendo um padre que teria sido alvo de racismo na cidade, a votação obtida por Bolsonaro, na cidade, entre outros elementos.

O ponto mais quente da discussão envolve o trecho da música onde diz “Adamantina, jóia da Alta Paulista. Cidade bela, de um povo neonazista”.

Siga Mais acompanhou a discussão, e entrevistou o músico. Quando rascunhou a letra, previu lá atrás que haveria repercussão. “Eu sabia que seria uma música que geraria reações intensas. A ideia era essa: provocar. Acredito muito no poder provocativo que arte tem, como um meio de promover a democracia e debates importantes sobre a sociedade. Mas é imprevisível! Poderia não ter saído da minha bolha de contatos e aí esse debate ficaria restrito a pessoas que já pensam parecido, o que seria uma pena. Eu imaginava que incomodaria algumas pessoas, até porque sei da dificuldade que certos setores da população adamantinense têm em lidar com opiniões diferentes, mas quando aquilo que a gente idealizou acontece, nunca é como a gente imaginou, é muito mais intenso”, disse.



Agora, com a música ouvida pelo público, o músico colhe feedbacks positivos e negativos. “É muito interessante perceber a diferença dos perfis das pessoas com relação aos seus feedbacks. Tenho recebido mensagens de apoio de artistas, professores, historiadores, além de pessoas da cidade que se sentiram representadas pela mensagem que eu trouxe na canção. Por outro lado, tenho sido bastante atacado por eleitores de Bolsonaro, fui xingado por um policial militar, alguns estudantes de agronomia e pessoas que dizem sentir saudades da ditadura. Recebo ambas posturas como uma confirmação de que consegui dialogar com a população, apesar de rechaçar posicionamentos agressivos e preconceituosos”, relatou.

Siga Mais quis saber se, entre as críticas, identificou algo mais abrupto, pesado, ameaça, intimidação, ou algo do tipo. “Foram várias ofensas, algumas mais leves e infantis, outras mais pesadas e agressivas. De um modo geral, essas falas confirmaram certos pontos que abordei na música. Teve até uma pessoa que disse que ia ver a possibilidade de me processar por danos morais, pois sentiu que as críticas que fiz ao conservadorismo da cidade, atingiam sua família. Foi interessante perceber que alguns indivíduos que inicialmente tinham uma abordagem agressiva com relação a mim, acabavam se desarmando quando eu iniciava o diálogo. As pessoas são muito reativas nas redes sociais, mas no fundo acho que estão muito carentes”.

CRÍTICA SOCIAL E HOMENAGEM

Dada a discussão e o debate que a música desencadeou, Rabay acredita que a obra alcançou seu propósito. “Sim, me sinto realizado. Primeiramente por poder promover a informação sobre aspectos da história adamantinense que sempre percebi muito apagados, como dados sobre os donos originais dessas terras, os Kaingang Paulistas, que foram saqueados e massacrados no início do século passado. É gratificante poder reavivar essa memória e fazer com que ela chegue até a população nos dias de hoje. Além disso, também me sinto grato por poder homenagear a memória e a obra do grande músico Julião Saturno e ver seu trabalho artístico chegando até a juventude de Adamantina através desse debate. Talvez, de outra maneira, esses jovens nunca teriam ouvido falar sobre o Julião, um compositor importantíssimo para a história da cidade”, disse. “Por último, me sinto satisfeito por saber que atingi pessoas que estão acostumadas a pensar que só o seu ponto de vista existe. Cidadãos que têm o costume de intimidar aqueles que enxergam como diferentes e, de uma maneira baixa e birrenta, atacar os seus opositores, da mesma maneira como aprendem com seu ídolo: Jair Bolsonaro. Bolsonaro é conhecido como “mito” pelos seus seguidores, que consideram suas famosas declarações polêmicas e absurdas como “mitadas”, então confesso que foi uma delícia mitar com a cara dessa gente”, continuou.

Ainda na entrevista, Rabay faz agradecimentos e reitera aspectos que são próprios da arte. “Gostaria de dedicar essa obra aos meus amigos e amigas de Adamantina e a minha vizinhança querida do Jardim Brasil, tenham certeza que nenhuma das críticas foram direcionadas a vocês. Além disso, também a dedico a todos aqueles e aquelas que se sentiram representados pelas minhas palavras, desejo força para seguir e deixo uma mensagem: não estamos sós. Finalmente, gostaria de pedir ao povo simples e de bom coração da cidade, que não leve todas as palavras da canção ao pé da letra. Peço encarecidamente que entendam que na arte existe uma coisa chamada licença poética e termino citando os últimos versos da canção que lancei: “Mas apesar de tudo, gente boa, humilde e trabalhadora, faz de Adamantina um bom lugar pra se morar. O agricultor da casa de madeira e de porta aberta com umas muda de mandioca pra compartilhar. Salve pra Batalha da Estação, Julião Saturno, Mestre Ura e a galera da cultura. Adamantina de um povo que luta, na mão de uma elite muito interessada em manter tudo como está!””, finaliza.


Fonte: Siga Mais

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